sexta-feira, 15 de julho de 2011

O mistério, irmã, reside no sopro do teu nome.

E naquele tempo diluíra-me já no caos de todos os seres animados e inanimados que me rodeavam, perdera a memória do meu nome e das letras com que se escrevia, dos sons com que se gritava e nem quem assobiara a minha senha despertaria uma breve e instantânea emoção. A minha identidade diluíra-se e era tudo o que no horizonte o olhar alcançava. E encontrava-me na iminência de nem me poder resgatar. Já não era eu, era tudo.
E subi à montanha. Sentei-me no seu cume e inspirei todo o ar, quase rarefeito, que meu peito pudera conter. E retive-o até que todo o meu corpo parecia já estourar. Quase podia ver o rubor na minha face.
Então expeli o grito, articulando o meu nome. Repeti-o três vezes. E surpreendi-me com ele. LÁÁÁÁ ZAAAA ROOOO!
E desfaleci.
Quando despertei, a brisa matinal soprava-me os cabelos. O rio Jordão serpenteava reflectindo o fulgor rubro do sol rompante.
Eu sou LÁZARO, resgatei o meu EU. Aterrorizava-me que pudesse recordar o caos por onde andara perdido e despojado de mim.
Veio ele então dizer que me ressuscitara e me furtara ao sarcófago. E vou eu contradizê-lo? Não, irmã, se o contradissera teria que te responder quando me viesses perguntar como fora a morte.
Acredita então em que morri e em que ele me devolveu a vida. Porque, assim sendo, o pânico inibir-te-á de quereres saber.
Mas quando sentires, irmã, que ninguém te resgatará senão tu, então discorrerei fluentemente sobre a morte e a ressurreição.
Até lá, peregrinarás cativa da tua ausência de ti e da sua mentira. Aguardando também que ele venha para te resgatar.
O mistério, irmã, reside no sopro do teu nome.

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