quarta-feira, 20 de junho de 2012

E saindo Lázaro de sua tumba, perguntou-lhe Ele:
- Qual de tuas irmãs serás agora?
- Qual de minhas irmãs é a tua preferida?
- A minha preferida é Maria. Mas será Marta quem conceberá do filho do Homem.
- Então, pergunto-te eu. Qual de minhas irmãs me ressuscitou?
. Foi Maria quem me pediu. Mas foi por Marta que o fiz.
- Por Amor dela, ou através dela?
. É a mesma coisa, Lázaro. É a mesma coisa. Se ainda o não compreendeste, continuas agrilhoado à tua tumba.

segunda-feira, 18 de junho de 2012


Cruzei-me então com Lázaro na saída da sua tumba. Se ele saía, então eu entrava.Desejou-me um bom dia, com uma vénia cortês e solícita, eu desejei-lhe uma boa noite.Estendeu-me um maço de cigarros americanos com tanta simpatia que tirei um.Perguntou-me: - Conheces a minha irmã? - Eu não sou de cá. Vou em viagem para Betânia. Mas porque me perguntas? - Porque me pareces aquele que amava a minha irmã. - Sim? E como se chama a tua irmã? - Tenho duas. Queres vir jantar em minha  casa? - Como vês, não me fica em caminho. - Como sabes tu qual é o teu caminho? O meu caminho também foi aquele que agora tomas. E, como vês, estou de regresso. - Mas repara que eu nem posso regressar, porque ainda nem fui. - Mas vem comigo, a minha irmã espera por ti. - Como sabes? - Tu és aquele que amava a minha irmã. - Assim sendo, vou jantar contigo, para ver a tua irmã. E fui. Arrebatado por um desejo incendiado de conhecer a irmã de Lázaro.Disseram depois de mim que ressuscitara Lázaro. E ficou para sempre vazio o lugar que Lázaro abandonara. E eu envelheci ao lado de Maria.Tanto destino que ficou por cumprir.Trago agora entre os dedos um cigarro americano de que desconheço a proveniência.O Amor é sempre um tiro no escuro. A morte um tiro que não acertou no alvo.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O lugar da vida é lugar de morte,
um canteiro encostado junto ao muro
que cerca o talhão que te coube em sorte
Quando te despejaram no escuro.

Vieste inebriado de futuro,
não há já lugar que te conforte.
rompe a onda o caixão do nascituro,
vai velado pela estrela do Norte.

A terra é macia e o mar é duro
e a onda é do vento o contraforte.
Breve a vida é e longa a morte
e tu és o caixão do nascituro.

Num canteiro encostado junto ao muro,
jaz o passado encostado ao futuro.